Iom Hashoá – Dia da Memória do Holocausto

27 de abril de 2022

O calendário judaico é repleto de eventos, em sua maioria festivos, mas não é o caso do próximo. No dia 28/04, data que corresponde ao dia 27 do mês Nissan pelo calendário judaico, é “Iom Hashoá Vehagvurá” (Dia [da Memória] do Holocausto e do Heroísmo), quando lembramos as vítimas do Holocausto e o espírito de resistência de todos os que lutaram para combater as tropas nazistas, mesmo sabendo que seria muito difícil sobreviver. A data foi oficializada pelo então primeiro-ministro israelense David Ben Gurion em 1959, não apenas a fim de manter viva a memória de seis milhões de judeus aniquilados, mas também fazer com que o Holocausto chegasse ao conhecimento do mundo inteiro para combater as atrocidades cometidas em nome do antissemitismo e também do preconceito contra qualquer ser humano. O regime nazista também perseguiu e exterminou ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, pessoas com deficiência, entre outros.

Inicialmente o feriado era chamado apenas de “Iom Hashoá”, ou Dia (da Memória) do Holocausto, e sua agenda tinha uma ênfase maior na vitimização e no sofrimento infligido a milhões de judeus europeus pelos nazistas. Diante de um incômodo surgido entre os jovens, por parecer que os judeus europeus eram “conduzidos como ovelhas para o abate”, o currículo educacional israelense começou a mudar a ênfase para documentar como os judeus resistiram aos seus algozes nazistas por meio da “resistência passiva” – mantendo sua dignidade humana nas condições mais insuportáveis ​​– e pela “resistência ativa”, lutando contra os nazistas nos guetos e juntando-se aos guerrilheiros clandestinos (os “Partisans“) que lutaram contra o Terceiro Reich em seus países ocupados.

“Lembrar para não esquecer”: esse é um forte lema que acompanha a manutenção da Memória do Holocausto. “Não relembrar, ou negar o Holocausto, significa assassinar as vítimas pela segunda vez; por outro lado, recordar, significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições”  declarou Elie Wiesel, um sobrevivente da Shoá merecedor do Prêmio Nobel da Paz. O historiador Saul Friedlander observou que “quando há quem creia que o outro não tem o direito de existir, chegamos ao cruzamento dos caminhos entre a civilização e a barbárie”. É por isso que, além de recordar, de não esquecer, é importante compreender e nos comprometermos a seguir lutando pela civilização. 

Os grandes Museus do Holocausto se preocupam com essa perspectiva educativa, e disponibilizam excelente material em português como por exemplo o Museu do Holocausto de Curitiba, o Yad Vashem, em Jerusalém e o Museu do Holocausto de Washington. Como lembrar, como tratar e sobretudo, como educar para um episódio histórico tão ácido e cruel, não é tarefa simples, principalmente com crianças pequenas. Na nossa escola, temos um projeto que leva alunos da 2ª série do Ensino Médio para a Polônia e Israel, “A Marcha pela Vida”, onde os alunos visitam campos de extermínio e outros locais que preservam a memória da Shoá (Holocausto), e diversos pontos de interesse histórico na Polônia e em Israel. A partir do Ensino Fundamental II, o tema já entra para o currículo de História e História Judaica, e as abordagens pedagógicas são aprofundadas e ampliadas ao longo da escolaridade, sempre com a preocupação de um olhar empático e responsável, despertando para as consequências da indiferença e intolerância.

Em Israel, na data de Iom Hashoá Vehagvurá, há solenidades públicas e as sirenes ecoam em todo o país ao pôr do sol (no calendário judaico a contagem do dia começa com o pôr do sol e termina com o pôr do sol)  e, novamente, às 11 da manhã (horário de Israel). Durante o toque das sirenes todos param durante dois minutos. Se estiverem a pé, num mercado movimentado, na praia, em casa, ou se estiverem em veículos. Os carros param nas estradas, os passageiros saem para observar o silêncio de pé. As bandeiras são colocadas a meia-haste. Não existe entretenimento público em Iom Hashoá – teatros, cinemas, bares e outros estabelecimentos fecham por todo o país. 

O mundo inteiro acompanha essa prática, adequando horários e locais de cerimônias. No Eliezer Max faremos um tekez em memória das vítimas e dos heróis com acendimento de velas e toque da sirene. Nos lembremos das pessoas, mais do que dos números, das vidas, mais do que das mortes, da cultura, mais do que das ruínas.